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sábado, 21 de abril de 2012

Estatização da YPF na Argentina deixa Brasil em encruzilhada

A  estatização da YPF na Argentina, controlada pela petroleira espanhola Repsol, põe o Brasil em uma encruzilhada: sócio comercial dos argentinos e europeus, não quer perder investidores, por outro lado, sua gigante Petrobras foi convidada a aumentar a participação no país vizinho.

Nesta sexta-feira, quatro dias depois da estatização, o interventor da YPF e ministro de Planejamento argentino, Julio De Vido, propôs ao Brasil que a Petrobras aumente a produção e os investimentos na Argentina.

A Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil, tem uma enorme presença de empresas nesse país e a Petrobras é a terceira produtora e refinadora de petróleo em solo argentino.

"O Brasil está em uma situação muito delicada. Não pode apoiar abertamente a Argentina porque (a estatização) foi uma medida dramática que criou muita insegurança jurídica que o afeta como sócio do Mercosul e tampouco se opor porque a Argentina é um sócio e um vizinho muito importante", disse à AFP o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.

O Brasil manteve silêncio sobre a estatização da YPF, apesar de poder ser um dos mais afetados, como fez em relação às recentes barreiras comerciais argentinas.

Sobre a Repsol "não desejo me manifestar, é uma questão interna da Argentina", se limitou a dizer na terça-feira o ministro de Minas e Energia brasileiro, Edison Lobão.


Nesta sexta-feira, diante do pedido de mais investimentos de De Vido - que espera que a Petrobras aumente de 8% para 15% sua participação na produção petroleira na Argentina - Lobão expôs uma dura realidade: a carteira de investimentos da Petrobras está comprometida com a exploração do "pré-sal", as gigantescas jazidas descobertas na costa brasileira.

A província argentina de Neuquén cancelou no início de abril uma concessão de exploração petroleira da Petrobras, alegando falta de investimentos, como ocorreu com a Repsol antes da expropriação.

"Acredito que a Petrobras e qualquer investidor internacional vai pensar muito antes de continuar investindo na Argentina", reagiu na sexta-feira o embaixador da Espanha em Brasília, Manuel de la Cámara, para quem o Brasil pode tirar uma vantagem da situação: muitos europeus podem cancelar suas compras da Argentina, abrindo caminho para exportações brasileiras.

Há apreensão de que medidas como a da Repsol se repitam com outras empresas, considerou o chefe dos exportadores brasileiros, para quem, contudo, seguramente a Argentina não pensa em enfrentar o Brasil. "A Argentina sabe que se brigar com o mundo fica sem aliados", disse.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, a "Petrobras não poderá apoiar tanto a Argentina como ela pretende", porque seus investimentos já estão comprometidos com o pré-sal e porque a expropriação "despertou a oposição de todo o mundo e se a Petrobras assumir esses investimentos, entraria em uma briga diplomática que não lhe interessa".

"Para a Petrobras - quarta petroleira mundial - há pouco interesse em sua presença na Argentina. Não é um mercado que incentive os investimentos porque mantém preços congelados", disse Pires à AFP.

Alberto Pfeifer, especialista do grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo, disse à AFP que "o governo brasileiro terá a habilidade de não decepcionar a Argentina", mas também "de não passar por oportunista frente à Espanha".

Pfeifer alertou que a estatização afeta "a credibilidade que o Mercosul levou 20 anos para construir: de que é um bom lugar para investir", e lembrou que o Brasil adotou recentemente medidas de proteção de seu mercado que despertaram críticas internacionais.

A chefe da missão europeia em Brasília, Ana Paula Zacarias, alertou sobre os efeitos negativos que a expropriação da YPF pode ter nas negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e Europa, retomadas em 2010.

Na América Latina, Chile, Peru e México também alertaram sobre as eventuais consequências da decisão argentina sobre os investimentos regionais. Da AFP

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