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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Montadoras do Nordeste, Johnny Motos e Shineray, correm risco


Cleide Silva, do Estadão de S. Paulo
Enquanto aguardam um pacote do governo de incentivo às vendas, as fabricantes de Manaus, de onde saem mais de 90% das motos do País, começam a ser beneficiadas pela medida que elevou a 35% o IPI para motos importadas ou fabricadas fora da Zona Franca. A medida foi anunciada no fim de maio e entrou em vigor em 1.º de setembro.
Até o mês passado, motos com até 50 cilindradas recolhiam 15% de IPI e aquelas com 51 cc a 250 cc pagavam 25%. A medida, que deve resultar numa alta de 15% a 20% nos preços finais de scooters e motocicletas, afeta cerca de 2% dos produtos à venda, mas atrapalha planos de marcas que hoje importam da China e têm planos de montagem local.
Uma delas, a Shineray, pode desistir da fábrica que pretendia abrir no fim de 2013 em Pernambuco. O terreno no complexo de Suape está em terraplanagem, mas a obra civil pode ser adiada.
A situação é semelhante à da Johnny Motos, que está prestes a inaugurar fábrica em Camaçari (BA). O diretor-presidente da empresa, Eduardo Oliveira, luta para tentar flexibilizar a atual legislação tributária do setor.
“Fomos pegos de surpresa”, diz Oliveira. “Qualquer importador está em situação melhor do que quem pretende produzir fora da Zona Franca. Os governadores de Estados como a Bahia e Pernambuco, que estão recebendo investimentos no setor, estão sensíveis ao problema.”
De acordo com ele, foi feito um pedido ao governo federal para que a situação seja mudada. “Sabemos que o governo não está interessado em dividir o País, por isso temos certeza de que o decreto vai ser revisto até o fim do ano”, afirma o empresário.
A Jonny tinha previsão de inaugurar a fábrica em setembro. De acordo com Oliveira, porém, os meses chuvosos do inverno adiaram as obras. A expectativa, agora, é fazer com que a unidade inicie a produção em dezembro. 

Inicialmente, a fábrica, que consumiu investimentos de R$ 18,5 milhões, vai apenas montar as motocicletas com as peças importadas da China, empregando 120 pessoas e com capacidade inicial para 150 mil motos por ano. “Instalar a fábrica em Manaus nos traria problemas logísticos, já que nosso maior mercado é o Nordeste”, alega Oliveira. “Os incentivos fiscais e o apoio recebido do governo da Bahia viabilizaram o investimento.” 
Já a Shineray investiu R$ 104 milhões no projeto, bancados por um grupo de cinco empresários do Nordeste. A previsão era de montar inicialmente 100 mil motos ao ano com kits (CKDs) trazidos da China, podendo chegar a 250 mil. Na primeira fase serão criados 500 empregos diretos. As motos seriam as mesmas importadas atualmente, de 50 cc a 250 cc, vendidas por preços entre R$ 3.290 e R$ 11.990.
“As obras de terraplanagem do terreno devem acabar no fim de setembro e, após obter as licenças, iniciaríamos as obras do prédio, mas, se até lá não tiver uma definição sobre a nova regra, poderemos suspender a montagem e manter no local apenas o centro de distribuição”, afirma o diretor executivo da Shineray, Paulo Perez.
Perez afirma que, num primeiro momento, o grupo não pretende repassar ao consumidor a alta do imposto, de cerca de18%. “Vamos segurar os preços até quando for possível.” O grupo tem138 concessionárias no Brasil, sendo duas em São Paulo. A maior concentração (70%) está no Nordeste, principal mercado da marca.
“Tomamos a decisão de investir na fábrica fora da Zona Franca porque, mesmo tendo total conhecimento da política de proteção do governo federal, uma verdadeira reserva de mercado, as regras, na nossa cabeça, estavam claras e havia margem para trabalhar em Pernambuco”, diz Perez.
Interlocutores do governo pernambucano estão atuando nos bastidores para reverter a saída do grupo do Estado. Uma fonte ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico afirma que há uma discussão para tentar enquadrar a empresa em um programa especial, em que as alíquotas antigas seriam mantidas. 
O argumento será o de que o grupo já havia iniciado os investimentos em 2010. “A regra mudou no meio da partida. Isso não está certo. Acreditamos que a decisão será favorável e conseguiremos manter o empreendimento no Estado”, diz a fonte.
(Com Thiago Décimo, de Salvador, e Monica Bernardes, do Recife)

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