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quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chávez, a pior distância entre duas crises


Hugo Chávez assumiu o poder na Venezuela em 1999 para um mandato de cinco anos. Acabou ficando 14. Já havia anunciado a pretensão de ficar no poder até 2031 — modestos 32 anos… 

Chávez venceu a eleição presidencial de 1998 à esteira de uma profunda crise econômica e política, o que abriu espaço para sua pregação virulentamente populista, nacionalista, socializante e anti-imperialista — um coquetel de coisas ruins, de atrasos. Não houve solução fácil e errada para problema difícil a que não tenha aderido. 

Recorreu aos instrumentos que a democracia fornece — eleições, por exemplo — para instaurar o que pode ser chamado, sem exagero, de ditadura, ainda que ela não obedeça ao molde conhecido na América Latina em décadas passadas ou em vigor em vários países do mundo. Existe uma ativa oposição no país, sim — e isso não é o corriqueiro nas ditaduras convencionais. Mas ela está, na prática — e vamos ver por quanto tempo —, impedida de chegar ao poder porque só o “governo bolivariano” tem acesso, por exemplo, às TVs e às rádios. Chávez estatizou a radiodifusão, e a imprensa escrita vive sob severa vigilância. 

O coronel morre com as instituições em frangalhos. Foi a pior distância entre duas crises. A economia do país está destruída e depende hoje exclusivamente do petróleo. O estado venezuelano foi ocupado por uma súcia e existe com o propósito de atender aos interesses do chamado grupo bolivariano. O Poder Judiciário está corrompido e é parte desse movimento. Só isso explica o fato de Nicolás Maduro ter se mantido na Presidência. A solução foi escancaradamente inconstitucional — mesmo para os padrões de uma “Constituição Bolivariana”. 

Ao longo de 14 anos de poder, em vez contribuir para emancipar boa parte da população dos rigores da pobreza e da miséria, Chávez fez o contrário: cevou os miseráveis com seu assistencialismo agressivo e manteve intocado o ciclo de reprodução da exclusão — só que agora sob o manto protetor do estado. 

A pantomima, inclusive a legal, que cercou sua doença e morte denuncia o desastre. O ditador se vai, e o país terá de se ocupar de reconstruir os espaços da interlocução democrática, com as quais ele acabou. Não deixa como herança nem mesmo um partido organizado. Ao contrário: o chavismo é um “movimento”, a que não faltam, prestem atenção!, nem mesmo as milícias armadas. 

Em menos de um mês, haverá eleições na Venezuela. É quase certo que Nicolás Maduro, tão carismático quanto uma caixa de isopor, seja eleito. A comoção com a morte do coronel se encarregará de lhe garantir os votos. Aí será a hora e começar a contagem regressiva para o esfacelamento do chavismo — na verdade, já começou. 

Será a hora, então, de a oposição entrar em cena, aprendendo a fazer política sem ter mais o ditador como polo aglutinador às avessas. Os que se opõem ao governo terão de buscar o diálogo com as frações que forem se desgarrando do que restar do chavismo para reconstruir o espaço da política, que ele destruiu. A morte do ditador também serve de alerta à América Latina. Trato desse assunto em particular em outro post.  * Por Reinaldo Azevedo

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